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A Bulgária e a Romênia são países limítrofes localizados no leste europeu. Satélites da União Soviética na maior parte do Século XX, vêm obtendo notório crescimento econômico e cultural desde sua integração à União Europeia em 2007, diluindo sua antiga reputação de pobreza e atraso. Seu potencial turístico começa a chamar a atenção e se baseia em exotismo, hospitalidade, lendários castelos, isolados monastérios, estações de esqui e preços muito baratos até para os padrões brasileiros.
A Bulgária e a Romênia são países limítrofes localizados no leste europeu. Satélites da União Soviética na maior parte do Século XX, vêm obtendo notório crescimento econômico e cultural desde sua integração à União Europeia em 2007, diluindo sua antiga reputação de pobreza e atraso. Seu potencial turístico começa a chamar a atenção e se baseia em exotismo, hospitalidade, lendários castelos, isolados monastérios, estações de esqui e preços muito baratos até para os padrões brasileiros.
A religião ortodoxa é parte fundamental da vida na Romênia e na Bulgária |
E por que visitar tais nações? Bem, pela aventura. É bem verdade que a estrutura é muito decente e a "aventura" fica diluída, mas aqui nada se compara aos destinos mais votados da Europa Ocidental. Ademais, quem nunca quis conhecer a Praça em que Ceausescu fez seu último discurso antes de ser preso e fuzilado? Quem nunca quis descobrir como foi a transição da Cortina de Ferro mais efusiva para a selvagem economia de mercado? Quem nunca quis conhecer o interior da Bulgária de trem? Quem nunca sonhou em saber como é a Transilvânia? Quem nunca pensou em perambular pelo centro velho de Sofia e observar os prédios depauperados e empoeirados? Bem, estas e outras atividades eu sempre desejei.
A Transilvânia é tipo isso |
A
Bulgária, cuja capital é Sofia, é um país da Europa do Leste que
faz fronteira com a Turquia, a Grécia, a Macedônia, a Sérvia, a
própria Romênia e o Mar Negro. É uma nação agrícola de poucos
recursos, muito frio e montanhoso, conhecido por produzir as melhores
rosas do mundo. A música búlgara é outro produto sensacional: ritmos não lineares, muita dança caótica, energética, e um certo clima de jazz folclórico, seja isto o que for.
Bulgária e seu belo alfabeto cirílico |
Quanto à Romênia, é um país cujo idioma e
população têm origem latina: a língua, por mais que a afirmação seja vulgar e pouco criativa, parece um português "errado". Limita-se com a Hungria, a
Ucrânia, a Moldávia e o Mar Negro, além da Sérvia e a Bulgária
mais ao sul. Sua capital, Bucareste, é a sexta maior cidade da União
Europeia. Seu produto mais conhecido é o Conde Drácula.
Romênia e sua peculiar arquitetura |
Nossa
chegada no aeroporto de Sofia, numa gélida manhã de janeiro, contou
com uma paisagem esbranquiçada pela neve recém-caída. Havia pouco
movimento, apenas uns poucos policiais e trabalhadores, algo impressionante para a capital de um país. Para
viajantes que procuram destinos menos óbvios, mais sossegados e
repletos de história, perfeito! Utilizamos o metrô para chegar até
a cidade e, apesar do alfabeto cirílico, foi tudo bem fácil e
organizado. Seguimos diretamente para a estação em direção à primeira cidade do roteiro:
Plovdiv, uma cidade cuja história tem 6.000 anos, anterior a Atenas
e Roma.
Plovdiv e seu centro histórico muito preservado |
Uma das
cidades europeias mais antigas, Plovdiv é a segunda maior cidade da
Bulgária e importante centro cultural e de negócios. É um
município de médio porte orgulhoso de suas atrações
arqueológicas, como o Anfiteatro Romano, datado do século II DC,
com espaço para 6.000 espectadores. Continua sendo utilizado por
orquestras, companhias teatrais e bandas de heavy metal, é
impecavelmente mantido e visitá-lo é uma aula a céu aberto.
Do rock |
A cidade
conta com várias outras escavações e um centro histórico muito
agradável com gente jovem, mochileiros, restaurantes e cafés
descolados. Ali, como no resto do país, é possível para um casal
se alimentar com muita qualidade, acompanhados de uma garrafa de um
excelente vinho búlgaro (sim, eles existem), tudo por uns 15 euros. A Bulgária é barata.
Bebedouro público com água de excelente qualidade em Plovdiv |
Plovdiv tem muitos bons hoteis e restaurantes graças à boa estrutura turística. Recomendo o impressionante Hotel Maritza (http://www.hotelmaritza-bg.net/). Não é tão central, mas é o hotel mais kitsch e divertido que alguém possa desejar por estas paragens, lembrando algo como um velho destino preferido pelos apaniguados do Kremlin. É barato, tem comida muito boa, é metido a chique, mas o centro está coalhado de opções menos exóticas.
O hotel mais kitsch do mundo |
O retorno
a Sofia, a terceira capital mais antiga da Europa, foi realizado num
ônibus intermunicipal, meio de transporte mais eficiente no país. A
primeira grande atração visitada foi a catedral ortodoxa Alexandre
Nevsky, igreja de beleza singular construída por arquitetos russos
para comemorar a libertação da Bulgária do jugo otomano na Guerra
Russo-Turca de 1877-1878. A parte externa possui um curioso mercado
de pulgas onde se pode encontrar bijuterias antigas, quinquilharias e
memorábilia soviética.
A imponência ortodoxa |
Sofia é
uma cidade muito calma, com trânsito ordeiro e pessoas silenciosas
que usufruem de muitos parques, construções imponentes, incontáveis
igrejas e prédios com claras reminiscências da época comunista,
com reformas a realizar e pinturas a retocar. Não há, contudo,
pobreza ou mendicância evidente, nem mesmo em bairros mais afastados
do centro, o que denota que mesmo os búlgaros estão muito à nossa
frente no quesito distribuição de renda.
Um jovem |
A Rua
Vitosha, de pedestres, é o centro festivo da cidade, com seus bares
e restaurantes abertos madrugada afora, mesmo no rigoroso inverno.
Para os amantes da natureza, o Parque também denominado Vitosha é
uma belíssima atração. Localizado a 30 minutos de Sofia, conta com
trilhas para trekking, espaços para esportes de inverno e um idílico
teleférico. Ali fizemos um dos mais belos passeios de toda a viagem.
Neve e mais neve |
Em Sofia, recomendo fortemente o hotel Bristol (http://www.bristolhotel.bg/en/) que, embora não possua charme próprio por ser da rede Best Western, tem um custo benefício impressionante para um quatro estrelas búlgaro. Recomendo ainda o restaurante Vino Vino, um pouco fora do centrão mas próximo à Catedral Alexandre Nevsky. É um restaurante italiano com opções de comida do leste europeu e uma bela carta de vinhos búlgaros. Tem um ambiente belíssimo e merece a visita.
Romênia à vista |
Após
três dias em Sofia, atravessamos a fronteira da Bulgária com a
Romênia por terra. Optamos por cruzar metade do caminho por ônibus
e outra metade por trem, e ao final do dia já estávamos em
Bucareste. A baldeação foi feita na espantosa cidade de Ruse, uma localidade que parou por volta de 1945, com muito jeito de antigo paraíso soviético.
Ainda os ortodoxos |
Curiosamente, a primeira impressão da estação de trem de Bucareste foi a de um
local que ainda não havia adentrado o século XX, mas o metrô tratou de apagar a vetusta imagem: é
moderno, limpo, possui estações adequadas e muita eficiência.
Nosso hotel localizava-se ao lado do Parque Cismigiu, o mais
importante da cidade e próximo do Centro Histórico, o que nos
forneceu fácil acesso aos bares e restaurantes da região.
A pequena Paris |
Planejamos
uma visita ao Palácio do Parlamento, ou Palatul Parlamentului,
considerado o maior palácio do mundo, com 350.000 m2, e o segundo
maior edifício, perdendo unicamente para o Pentágono nos EUA. Não
é propriamente um motivo de orgulho nacional: sua construção foi
determinada pelo último ditador comunista, Nicolau Ceausescu, às
custas de um orçamento estimado em mais de três bilhões de euros.
O megalômano tirano, para a execução do projeto, permitiu a
destruição de grande parte da área histórica da cidade e o
desalojamento de centenas de famílias. A visão do local, contudo,
impressiona e a visita à parte interna é possível e recomendada.
Sombrio, estarrecedor |
Também
conhecida como “Paris do Leste” ou “Pequena Paris” em razão
de sua arquitetura elegante, Bucareste é uma cidade que exige
mínimos três dias de atenção. Devem ser incluídos passeios à
Cidade Velha, com sua ruelas agitadas, visitas às incontáveis
praças, igrejas e ao Museu da Aldeia, inserido no belíssimo Parque
Herastrau e focado na exposição de réplicas de construções
rurais de todas as regiões do país. Historicamente, vale a pena
sentir o clima da Praça da Revolução, ou Piata Revolutiei, local
onde Ceausescu fez seu último discurso antes de ser deposto, julgado
e fuzilado, nos últimos dias de dezembro de 1989, em pleno turbilhão
causado pela queda do Muro de Berlim.
RIP Ceausescu |
Nosso hotel foi o Trianon (http://www.hoteltrianon.ro/en/), um agradável 3 estrelas com requintes romenos, ou seja, ótimo café da manhã, decoração kitsch e bom custo-benefício. Recomendo, nas redondezas, a primorosa cervejaria Gambrinus, local de boa cevada na pressão e várias opções estrangeiras, além de comida honesta e barata.
Alguma melancolia romena |
A visita
à cidade trouxe uma grande sensação de hospitalidade e segurança,
e em seguida nos dirigimos à misteriosa Transilvânia, mais
precisamente à cidade de Brasov, fazendo uma escala na linda
localidade de Sinaia. Ali foi possível visitar o Monastério local,
datado do ano 1700, e um dos mais belos castelos do mundo: Peles.
Caminhando a partir da estação de trem, é possível visitar as
atrações em uma tarde.
Monastério em Sinaia |
Construído
em estilo românico entre 1873 e 1883, o Castelo de Peles era a
residência de verão da antiga família real. Na visita, os guias
apresentam interiores sóbrios, móveis antigos muito bem
conservados, armaduras, detalhes e decoração primorosa. Um passeio
nos jardins é atividade obrigatória, assim como comprar alguma
bugiganga numa das várias bancas de ambulantes que se amontoam na
área externa. Sem medo de errar, posso afirmar que este é um dos
mais impactantes e bonitos passeios do Leste Europeu, rivalizando,
guardadas as proporções, com Praga, Budapeste e São Petersburgo.
Uma visão impecável |
Seguindo
o roteiro, aportamos na cidade medieval de Brasov, hoje habitada por
400.000 pessoas e de história pulsante. É também um destino de
charme encravado nos Cárpatos Meridionais (ou Alpes da
Transilvânia), sendo próxima de algumas localidades dedicadas à
prática de esportes de inverno, como a agitada Poiana Brasov. O
centro histórico, assim como seus arredores, inclui a Igreja Negra,
a única igreja gótica da Romênia, portões, cidadelas, fortalezas
e a colina de Tampa, local para caminhadas e para observação da
cidade.
Descansando |
A maior
atração da área de Brasov é o Castelo de Bran, mais conhecido
como o castelo do Conde Drácula. Trata-se de uma fortificação
medieval cujo morador mais notório foi o príncipe medieval Vlad
Tepes, de alcunha “O Empalador”, notório por sua brutalidade
para com os inimigos. Diz a lenda que foi este personagem que
inspirou a história de Dracula, escrita por Bram Stoker em 1897. A
visita ao castelo envolve a subida de muitas escadarias e a presença
em nichos estreitos e soturnos, mas o museu foi reformado e exibe
móveis, apetrechos e fotografias dos inúmeros governantes que por
lá aportaram. O castelo conta com um eficiente marketing, mas vale o
passeio e o almoço em algum dos bons restaurantes da área. Os
últimos dias na região foram abrilhantados pela neve incessante, e
tudo que foi visto conta com um marcante registro em nossa memória.
É bonito mesmo |
Em Brasov, a estadia valeu cada centavo no confortável Casa Antiqua (http://casaantiqua.ro/EN/), um hotel-boutique com móveis e decoração vintage localizado no centro nervoso da cidade. Gaste o romeno que você aprendeu no Le Ceaun, local onde os locais tomam a melhor sopa da cidade e as donas não falam inglês; à noite, adentre o Bistro Del`Arte e curta uma noite interessante embalado por boa música e bebida honesta.
Sibiu e suas feições humanas |
Por fim, passamos ainda uma última noite na charmosíssima cidade de Sibiu, cujas principais atrações são seus museus, restaurantes e os telhados que têm olhos. São pequenas aberturas, fendas ou janelas que dão uma divertida feição humana às casas.
Cores marcantes no inverno |
Aqui encontramos os melhores restaurante da viagem: mergulhe na comida típica da Romênia almoçando no ambiente medieval do Crama Sibiana e usufrua do clima leve e descontraído, com excelente comida, do Kulinarium, à noite.
A preocupante visão do aeroporto de Sibiu |
A
Bulgária e a Romênia são países que, estando fora do foco de
turismo de massas, mantém quase intocadas sua originalidade e sua
simplicidade, preservando com cuidado suas características rurais e
suas raízes históricas que foram sendo construídas diante das
rivalidades de otomanos, russos, húngaros e germânicos. Pode-se
afirmar que são países em pleno desenvolvimento capazes de nos
apresentar fragmentos de um mundo que já não existe mais. São as
pérolas escondidas do Mar Negro.
Eu e minha cerveja romena |